quinta-feira, 3 de março de 2011

Os Elos da Correia


Segundo a Brigada Militar, 1500 pessoas participaram do ato de protesto ocorrido em Porto Alegre na última terça-feira. Entre os manifestantes, durante a passeata, falava-se em 2000. Fato é que, há pelo menos uma década, a capital gaúcha não via uma manifestação dessa dimensão. Passados apenas quatro dias do episódio que lhe deu origem, o ato atingiu um grau de execução que beirou o impecável.

E não deixa de ser interessante a combinação de elementos que gerou isto. O ato ocorrido na noite desta terça-feira foi alimentado pela conjuntura: a atrocidade cometida pelo motorista deu uma enorme visibilidade ao “Massa Crítica”, grupo que há um bom tempo vem atuando nas ruas de Porto Alegre. Com esta visibilidade, surge a possibilidade de um certo crescimento do movimento.

Mas, obviamente, a oportunidade de nada serve se não houver inteligência e habilidade suficiente para aproveitá-la. E estes elementos a organização dos ciclistas teve de sobra.

Em primeiro lugar, no plano simbólico, a campanha teve bandeiras fortes e bem definidas: a valorização da vida, a educação para o trânsito e a defesa da sustentabilidade proporcionaram um conteúdo bastante consistente ao movimento.

As imagens evocadas ou construídas fortaleceram ainda mais o apelo simbólico da passeata: a gravura que conjugava um carro e uma arma e a própria figura da bicicleta acionaram a velha tensão homem vs máquina e, no extremo, vida vs violência.

Outra característica interessante do movimento foi a ampla rede de relações que foi acionada para que mais de 1500 pessoas participassem do protesto nas ruas da cidade. Apesar do restrito núcleo do movimento (o “Massa Crítica”) a adesão de simpatizantes diversos e membros de outros grupamentos (partidos políticos e movimento estudantil, por exemplo) encorpou o ato através de uma organização informal que gerou uma considerável flexibilidade. Em função disso, os recursos gastos com o gigantesco protesto foram mínimos.

Por outro lado, essa informalidade – e sua conseqüente flexibilidade – traz uma relativa fraqueza: ao mesmo tempo em que criou um ato dotado de espontaneidade e velocidade, gerou um movimento que apesar de suas dimensões, dificilmente manterá níveis elevados e permanentes de mobilização.

Um outro ponto – o que certamente foi mais visível – é a destreza com que o movimento utilizou os meios de comunicação. Não foi à toa que o episodio todo teve repercussão mundial: além da dramaticidade da barbárie cometida pelo motorista, o movimento soube explorar muito bem o apetite sensacionalista da imprensa (escrita, falada e televisiva). E, ao mesmo tempo, aproveitou as grandes vantagens da internet: sua amplitude, sua velocidade nas trocas de informações e sua economia.

Em função de sua informalidade, a tendência é que, com o tempo, a mobilização afrouxe, retornando o movimento a algo próximo ao seu núcleo original (o pessoal do “Massa Crítica”). Contudo, a dramaticidade do caso, a força das imagens e a experiência da mobilização plantaram a semente.

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