segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Quando Olívio chorou



“O ex-prefeito da Capital chegou às lágrimas e disse que a esquerda precisa

construir melhor no primeiro e no segundo turnos sua articulação.

‘Precisamos nos preparar para daqui a dois anos (…) com uma

candidatura do nosso campo, para enfrentar a centro-direita’”.

Correio do Povo, 27.10.08, p. 3.


Ontem, as urnas portoalegrenses confirmaram a tendência das pesquisas e do resultado do primeiro turno. A derrota petista, por mais de 17% dos votos, confirma o “baque” de quatro anos atrás e mostra alguns elementos/dilemas que, creio, se atravessam na caminhada do Partido.

Pensando do ponto de vista institucional, alguns fatores pesaram para o resultado. Em primeiro lugar, o progressivo isolamento petista que vem se desenhando nos últimos pleitos aqui no estado. Acredito que este isolamento seja fruto tanto da própria dinâmica do Partido no Rio Grande do Sul, relativamente inflexível a parcerias, quanto à falta de flexibilidade dos possíveis aliados. No entanto, neste ano, houve também a excessiva flexibilidade do PT nacional: o arranjo de alianças que sustenta o Governo Lula engessou o PT nas diversas realidades regionais, e creio que a entrada tímida de Lula na campanha de Rosário aos 45 minutos do segundo tempo em Porto Alegre seja um exemplo claro aos nossos olhos, pois o objetivo do presidente era não desagradar o aliado PMDB-nacional.

Outro ponto é a já tradicional fragmentação das esquerdas, não à toa tratadas geralmente no plural. A tática de “cada um no seu quadrado” foi visível nesta eleição. Resultado: o que é considerado por muitos sinal de fortaleza ideológica mais uma vez abre as portas ao fortalecimento conservador.

Mas creio que outro fator seja importante: a forte coalizão montada pela candidatura Fogaça. A troca para o PMDB ainda durante a administração atual se mostrou correta do ponto de vista do cálculo político. Fogaça disputou o pleito do alto de uma forte máquina partidária, ao mesmo tempo em que contava com a permanência na Prefeitura.

Além disso, dois apoios foram de extrema importância para o candidato peemdebista: o PTB e o PDT. Ambos proporcionaram o reforço de estruturas partidárias fortes, levando a candidatura Fogaça para as periferias da cidade. Fogaça ganhou uma "cara mais popular" sem perder o bom e velho voto antipetista de grupos das chamadas classes média-alta e alta, e mesmo o antipetismo mais ou menos generalizado em Porto Alegre (embora este me pareça cada vez menos sinônimo de posição ideológica consciente). Ao apoio do PDT, soma-se um fator importante: a mística do Brizola, cuja força ficou clara na eleição de sua desconhecida neta com uma considerável votação.

Voltando ao PT, creio que esta segunda derrota consecutiva em uma cidade que foi (e é) fortemente simbólica na história da estrela vermelha demonstra um dilema para o Partido. O pessoal da ciência política costuma dizer que um partido permanece por muito tempo ligado (e, portanto, influenciado) pelas condições de sua origem. Pensando em termos de evolução histórica, concordo com isso.

Assim, creio que o grande desafio do Partido dos Trabalhadores seja optar entre um desenvolvimento que absorva e trabalhe as mudanças, mantendo sua história à esquerda ou um caminho no qual o pragmatismo e o clientelismo sejam definitivamente institucionalizados. Embora essas duas “vias” estejam presentes no Partido há tempos (e, agora, não saberia dizer desde quando), ainda há – creio eu – tempo de tomar uma decisão e acertar os rumos. Desafio do PT para a próxima eleição e para além.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

E agora, PT?

..."look at all the lonely people"...


Voltando do Campus do Mato nesta noite, me deparei com um comício petista. Fui tomado por uma onda de nostalgia e entrei na maré vermelha. Lá dentro, vi que a maré não era tão densa, e nem o vermelho, tão vivo.
Não ia a comícios do PT desde 2002. Nesses seis anos, mudamos muito. Mudou o PT. Mudei eu.
Das minhas mudanças, muitas são (para mim obviamente) motivos de orgulho. Das mudanças do meu ex-Partido, não posso dizer o mesmo.
Sempre costumei dizer que não era petista, mas sim que "estava petista". No entanto, a verdade é que por muito tempo considerei a estrela vermelha uma razão de esperança (não a única, claro).

Não nego a importância do Partido. Acredito que a construção de uma história de duas décadas não se desfaz em seis anos. Ainda vejo gente boa ligada ao PT. E vejo também os "braços" do Partido em alguns movimentos sociais. Afinal, um partido é sempre maior que sua sigla.
Porém, o que me dói é ver essas mesmas pessoas e "braços" cada vez mais engessados em sua subordinação a uma cúpula partidária cada vez mais distante do ideal de transformação que impulsionou sua própria formação no passado.
Certamente as minhas mudanças nos últimos anos contribuíram para esse sentimento estranho de hoje, quando me deparei com uma maré rasa e um vermelho meio desbotado. Contudo, não creio que os partidos sejam todos iguais, nem penso que a luta por transformações pela via da política institucional deva ser abandonada. Entre pragmatismos necessários e limites asfixiantes, ela deve ser mantida.
Mas é um tanto doloroso ver pessoas boas ligadas ao PT se debatendo com esse paradoxo.

O Partido dos Trabalhadores perdeu terreno na minha cidade. E não sei se conseguirá reconquistá-lo sem se descaracterizar ainda mais, pois a minha Porto Alegre não parece ser nem sombra da Porto Alegre mais politizada das décadas passadas.

Não fiquei dez minutos no comício. Saí com um aperto na garganta e um mal-estar difícil de explicar.